finita
termino em mim
imortal se
terminasse no outro
cada vez mais
distante
só me serviu
pra contar as sílabas
a má temática
vermelho
o flamboyant se esconde
em outonais dormências
pétala de outro dia
cai
a tarde
ante meus olhos
sépios
de murano e junco
vasos de sol-se-flor
e por ser raso
exagera
que todo exagerado
no fundo
é raso
ou fundo
depende do olhar
sempre tão relativo
tão raso
às vezes tão
profundo
todo poeta é rangedor
range os dentes
rói as unhas
e se pudesse
roeria a si mesmo
rangendo versos
em infinitos go(n)zos
os dias
para onde foram
os dias
um por um
se foram
os dias
não sei para onde
só a fumaça
se move - indiferente
depois do incêndio
silenciosa flor
ainda que muda --
flor
frutos que caem
os dias - não me furto
me farto
um barco navega
num mar de palavras
trazendo os frutos

da árvore que caiu
no fim da tarde
estrela pouca:
apenas um instante
de nuvens muitas
desperta
a árvore da noite –
perfume doce
a árvore
que me viu menina
a mesma
que me viu mulher
a mesma
que estará por aqui
quando eu já não
estiver
estado de não sei quê
no estágio de não
sei como
nem sei
se quero mesmo saber
a solidão é fera
já não domesticável

: resta contê-la

eu, com meus versos
a cerco
desfigurado espelho
que já não
me reflete
(e a outra revela)
recôndita figura
sem sorrir
por se ver sem existir
quero ser leve
e simples
como uma folha
ou uma flor
- me sopra?
ando pela cidade desfigurada
já não sei mais quem somos

(eu e a cidade)
disperso o bando
que um dia acreditei para sempre

(voaram penas)
o rubro tom do sol nascente
agora fere os olhos

(a vida se põe)
pássaros antigos
cansados de voar se escondem

(e silenciam)
das fogueiras antigas
tudo o que resta são as cinzas

(se houvesse vento...)
da festa do dia
muitos não participam
a vida não é justa
mas é bonita
... bonita
juncos sedentos:
inda vergamos
em busca
do consolo das águas
insaciável sede
que nos mantém
caiu a árvore da tarde
e eu nem havia colhido
os frutos do dia
e a última palavra
só será pronunciada
pela última flor
só a fumaça
se move - indiferente
depois do incêndio
frutos que caem
os dias - não me furto
me farto
chuvas, só chuvas
natureza transborda
suas lágrimas
haicai
não pôde ser
seja tanka ou cinquain
que aconteça - verso qualquer
me basta
potes
de barro
o que somos
— quem sabe? das águas
que contemos
tenho pena do goleiro
patética figura
(tão humana)
sempre à espera
do que não pode ser
eternamente
contido
paralelas
linhas que de tão
retas e longas se afunilam
seja de fuga ou de encontro
um ponto
vento lá fora
e aqui
dentro
porque é tempo
agora
de ser só
vento
vento de longe
gravetos e segredos
antigo sopro

menina quase moça
tempo quase de voar
não confundam
eu, comigo
- eu
vive além
do meu umbigo
fronteira
- eu
vivo aquém
(interessar possa)
(sou) ilha
que se afasta do que foi
l--e--n--t--a--m--e--n--t--e

sonhando
com seu (meu) pedaço
c--o--n--t--i--n--e--n--t--e
pedaço de céu
entre nuvens cinzas
derrama
c-h-u-v-a---d-e---l-u-z
holofote de sol
que branco
brinca de lua cheia
mata o mato
com mata
mato
tudo parece ter
seu lado
mata dor
erva daninha
flor
40º
primavera quente
nada de chuva
passarinho mergulha
no mar de areia
tudo parece tão novo
tão claro
e foi apenas
um vento breve
que soprou cortinas
e eu pude ver lá fora
pobre rio
não vai saber do mar
é rio pequeno
vai secar
a tua ausência
teceu em mim
um longo e áspero bordado
de silêncios
e pedras
há sol
quase secos
telhados e ruas
olhos e almas chovem
ainda

(por quanto tempo?)
a minha matemática mente
faz de conta

o tempo todo

aleatória
mente

mente
agora eu sei
que todo rio vai virar mar
: se tiver sorte e não morrer sufocado
mas se secar será
finalmente estrada
...que me leve
suave
caminhar entre as águas
deixar-se ir
[...fluir
moeda é semente
na casa de câmbio
do sol nascente
imensa - a lua
reflete
nos olhos
do meu
cão
e fica
do tamanho
dos seus olhos
e dos meus
respiro fundo
trago os olhos vermelhos
do ar de outono
canto
a vida miúda que me cerca
tudo mais
são olhares outros
tantos: - que não os meus
brilho * estrela
pele * cor
do que um dia
pérola * flor
mas do que vale a vida
se não for dividida:-
nada

inteiro
o sempre o nunca a ave
de rapina

as penas

f in i tude et ernidade
rio breve de não chegar
marejam olhos
de não amar
(amargo rio)
que ainda cisma: - mar
tentei
saber do mundo
lá fora
perdi meu tempo
mundo é aqui
dentro
inertes e brutas
montanhas de pedras --
uma delas sou eu
no meio da rua
um sapo estatelado --
o homem é mau
sorri o sapo
bando de vagalumes
fluorescentes